sábado, 26 de dezembro de 2015


6/06/2004

Muitas vezes colo vários fragmentos de coisas que já escrevi, para montar o texto final e que irá dizer tudo que penso e sinto. Corro o risco de sempre repetir temas e prejudicar a originalidade. Mas não estou na fase da qualidade, de esperar a inspiração vir para ter a idéia perfeita e sim da quantidade. Exercitar bastante, para aprender a desenvolver as idéias pela escrita:
 
 
NUMA TARDE QUALQUER

   Vi a porta da cozinha aberta, a qual dá para o corredor do lado de fora da casa. Os raios solares entravam através do basculante da cozinha, enquanto, na parede áspera e descascada do lado de fora, a luz do sol batia diretamente. Há um contraste na iluminação da cozinha e na parede do lado de fora. Estava na sala de jantar, sentado à mesa; daria um lindo quadro.
   Era engraçado que num passe de mágica, certos momentos ditos sem relevância, de repente, podem ser percebidos. Lembrei-me de quando estava fazendo o ensino médio, estudava num colégio ao lado do terminal do ponto de ônibus, que ficava em frente a um viaduto. Quando entrava no ônibus, percebia que no alto da parede do viaduto tinha uma planta. Como aquela planta nasceu naquela rachadura? Talvez, o vento trouxe um pouco de terra e os pássaros, a semente. No local impróprio, ela nasceu. Um milagre simples da natureza.

    Depois de muitos anos, voltei ao local e não encontrei a planta mais lá. Estava fazendo um curso preparatório para um concurso público qualquer. Sabe como é que é; vivo no país do desemprego e instabilidade econômica crônica, todo mundo procura estabilidade num cargo público.

   Uma das coisas mais bonitas que considero também é quando o vento movimenta as cortinas. Não sei por qual motivo. Só sei que dá um lindo quadro, as cortinas sendo balançadas pelo vento. Às vezes, penso que há alguém ou um fantasma, a espiar quem passa na rua. Quando chega o verão, o calor está tão insuportável, que ao surgir uma brisa para refrescar, acho que é um pequeno milagre.

   Almejo fotografar ou pintar todos estes momentos belos e os quais não percebemos na maioria das vezes. Mas, não sou fotógrafo e muito menos pintor. Descrever? Dificílimo!      Não sei se vou conseguir mostrar com palavras a beleza destes momentos simples.
Técnica, preciso disso. Preciso estudar, a única coisa que tenho, é a imaginação. Só isso, não basta. A idéia precisa de um fio condutor, que é a técnica, para se materializar. Sou vago e não prático.

   Realmente, eu ainda não consegui fazer uma roupa bem bonita para vestir minhas idéias. Elas ainda saem nuas. Falam-me, que preciso descrever mais. Precisa desenvolver mais, para o texto ficar mais atraente.” Tenho dificuldade em escrever; tirava nota baixa na redação da escola.   
 

  Sempre desejei lidar com a palavra; dominá-la. Mas a palavra cruel, não cede ao suplício de qualquer um.

    Diz firme: "Leia, escreva, pensa e sinta". Digo para ela sem esperanças: " não consigo". Ela me diz; " Vou embora, não perco meu tempo com perdedores". Não sei lidar com ela. É uma esfinge, que me devora. Absorve minha energia vital.

   Às vezes tenho vontade fugir. Quero voltar a ser uma besta e viver no mundo selvagem que precede a palavra. Não desejo mais pensar e buscar a palavra perfeita, que irá esclarecer o que quero dizer.

   Não sou escritor, mas uma pessoa que escreve. Considero-me um contador das minhas próprias histórias. Conto-as, como se tivesse conversando com vocês. O meu texto lembra a fábula da Bela e a Fera. Deve abstrair a estética para perceber a essência. Quem conseguir suportar tanta feiúra e encontrar algo de belo no que escrevo, ficarei muito feliz.

Quando vejo na TV e leio no jornal, um escritor que escreve sobre um evento importante, como o aniversário de São Paulo ou do Rio de Janeiro, fico admirado.  Ele consegue encontrar as palavras certas, que emocionam e dão uma bela moldura no texto.

     Não consigo fazer isso, as palavras me escapam. Então, resumo o que penso:  ...moro no Rio de Janeiro desde que nasci, mas ao sair para algum lugar, principalmente a zona sul, sente-me um estrangeiro. Parece que não me enquadro no imaginário do Rio; praia, sol e muita curtição. Acho que não vale a pena, reduzir o Rio de Janeiro a zona sul e a zona norte, é muito além disso.

Lanço a idéia nua no papel. Não a moldo, para que se transforme numa jóia lapidada. Não tenho paciência, para escrever, apagar, escrever, apagar... até chegar a arte final. Só quero passar minha mensagem e pronto. Isto está relacionado com fato de começar o hábito da leitura recentemente. Começo a gostar de ler, na marra. Sempre fui mais acostumado, com as imagens já dadas pela TV e o cinema e não com palavras.
Uma vez uma professora me disse; “ Você tem que encarar seu texto como uma coisa, que não lhe pertence. Depois, criticá-lo como se fosse de outra pessoa”. Mas, não consigo. Penso, escrevo de imediato e pronto. Reler? Imagina, deixo como está e parto para outra idéia.
      Repito as palavras, não procuro sinônimos. Algumas pessoas dizem: “essa palavra não está adequada ou repetiu esse termo ou essa frase foi mal escrita”.      
Quando passo no papel minhas idéias, elas ficam truncadas. São colchas de retalhos.  Talvez, o que estou pretendendo contar, está partida em vários pedaços e não consigo juntá-las, para construir o todo da história.  



18/06/2004
            Outro dia, sonhei que estava observando o mar, mas não o de agora; mas o primitivo e denso que na época do colégio, o professor de biologia, o comparava como uma sopa nutritiva e na qual se originara os primeiros seres vivos do planeta.
           


21/06/2004
A minha vida é um papel cheio de rasuras.  Não quero pensar mais nisto. É meio dia, vem da cozinha um cheiro bom, começo a ficar com fome. O almoço de hoje é panqueca de carne moída, que é um dos meus pratos prediletos.
Errar dói, envergonha e nos torna vulnerável ao outro. Porém, é preciso.


28/06/2004
Em algumas ocasiões, o único barulho do meu quarto é o ruído da ventilação do computador. A cor branca impera na tela do monitor. Sinto-me esgotado de tanto pensar em algo, minha mente está completamente oca.


01/07/2004
Minha alma é de eras bem remotas. Por isso, às vezes, só quero dormir...



 08/07/2004
Imagino imagens. Gostaria de saber desenhar, para colocá-las no papel:

Uma mulher de vestido vermelho e decotado, chora lágrimas de sangue. Está observando um casamento na igreja. Aparece um cavalo negro, ela monta nele e sai na estrada empoeirada. De repente o cavalo se transformou numa imensa cobra alada. A mulher fica nua e com uma lança na mão, joga-a na igreja, que é destruída. Depois, ela desaparece na imensidão do horizonte. Um senhor sentado numa cadeira está no topo de uma chapada. Bebe chá, na xícara de porcelana chinesa. Um falcão aparece, carregando uma torta alemã, do nada, aparece uma mesa cheia de guloseimas. Ondas com rostos sorridentes e ao mesmo tempo severos. Uma cidade, onde não existia a noção de tempo e de espaço geográfico. Os carros, carruagens e espaçonaves dividiam o mesmo espaço nas ruas; executivos andavam ao lado de nativos africanos, que faziam um ritual religioso; uma mulher vestida ao estilo do século dezoito conversava alegremente no celular e um casal, ao seu lado, estava deitado no asfalto se amando, enquanto alguns macacos assistiam a eles; uma mulher lia um livro de filosofia para um leão e um coelho.



10/07/2004

Todos nós temos segredos e precisamos guardá-los para viver.
Quem diz que não há nada para ocultar, dizendo: "Minha vida é um livro aberto". Está mentindo. Apenas, mostra algumas páginas, as quais são convenientes mostrar.
  
         

   09/08/2004
  Já faz tempo. Fui há uma festa e encontrei um rapaz (mais um que tem um violão no braço, dizendo que é cantor) cantava e tocava as músicas pela metade. Achava-se diferente das outras pessoas, mas era mais um dos jovens aspirantes a músico e a cantor. Mas, compunha algumas canções, que parecem ser um mosaico de outras músicas de sucesso.

Sempre teve um caderno, onde havia vários recortes de jornais e revistas de citações: “Buscar por seu sonho, significa viver em plenitude”; “ meditar num lugar bonito, para se encontrar”; “conhecer o seu verdadeiro eu interior”; “precisa viajar e conhecer pessoas novas, para sempre se renovar”. Esse caderno era sua bíblia e o lia sempre.

        Não era bonito, mas sedutor. –Tenho alma de artista–. Sempre dizia. Todas as pessoas da festa ficavam ao seu redor. Pediam para ele tocar e cantar.


Quando não sabia ou não lembrava da letra da música, enrolava. Era mestre da arte de embromar. Arranhava um pouco de inglês, espanhol e francês.

Depois de cantar, contava suas histórias. Viajou por todo o Brasil e conheceu alguns países vizinhos.  Diz que essa viagem o ajudou a se encontrar.  Alguns amigos próximos falaram que ele voltou muito magro e doente dessa viagem. “Deve ter passado muito perrengue” comentavam.

Ele é um pouco esnobe, mas simpaticíssimo. Torço que encontre o caminho do sucesso. É mais um aventureiro errante, do que propriamente um artista.
Sinto um pouco de inveja dele. Não tem a vergonha de buscar seus sonhos. Queria mostrar minha alma nua também. Sem me preocupar com as críticas pejorativas e deboches alheios.


11/08/2004

Cotidiano em três cores: sonhei vermelho... acordei cinza... saí de casa azul... voltei cinza... esperei azul à noite cair... sonhei vermelho novamente...

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