sábado, 26 de dezembro de 2015

23/09/2004
DOIS EM UM

Sei que é errado sublinhar ou escrever num livro. Mas, ao ler um, que está todo marcado a lápis e escrito ao lado: importante!!, começo a me perguntar, o  quê levou uma certa pessoa a destacar certos trechos do texto?
          Além do conteúdo do livro, há uma interpretação de outro indivíduo; que sublinha e que faz lembretes, nos trechos que considera importantes. Leio as partes grifadas e contraponho com as que acho relevantes. Pegar ou comprar um livro assim, é como levar dois livros em um: o autor narra e o segundo, interpreta  a sua maneira, tentando estruturar o pensamento de escritor. Tento articular o meu ponto de vista, com o que estar sublinhado e com o que o escritor argumentou.
         E quando há poemas e dedicatórias? Sem querer, entramos em contato com a vida do outro. Ficamos sabendo  de confissões, amores e desabafos.  Começo a imaginar como foi a vida do primeiro dono daquele livro, porque ele escreveu certa coisa, porque desenhou um coração, que no meio dele estava os nomes Valdinho e Soninha  ou grifou um frase do livro e ao lado escreveu: é assim que muitas vezes, eu me sinto.
   Acho que sou um pouco vouyer. Gosto de observar a vida alheia. É como espreitar às janelas, olhar pelo buraco da fechadura e ler cartas de outras pessoas.


25/09/2004
    , sou preguiçoso demais para dissimular,



2/12/2004
        
Desejos e sonhos antigos fluíram e diluíram com o tempo. Agora, estão submersos em algum lugar.



4/12/2004
     Estou cansado de tanta mediocridade, que corrompe meu espírito. Sempre quero fazer o satisfatório, nunca o excepcional. Na escola, no trabalho e na faculdade.
   Terminei minha monografia. Não aproveitei o tempo da faculdade, talvez, se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, estaria mais realizado.
    Mas, como diz uma música do Cazuza “ O tempo não para”.





5/10/2005
       Mais um domingo. Estou sem inspiração para escrever e de pensar. Está uma tarde  agradável.
O menino corre na calçada. Um senhor anda na frente e o seu cachorro velho, atrás dele. A menina chora no colo do pai e ele lhe dá uma bronca. A rua está deserta, de vez em quando, passa um carro e um ônibus.
Sinto um cheiro de churrasco e escuto um som de pagode. No almoça comi macarrão, não quero comê-lo de novo.  Vou à padaria e comprar um pão bem gostoso.
Domingo, não tem só cheiro churrasco, mas sim de sangue, de morte e de medo. Sempre aparece na TV, notícias de assaltos e ônibus incendiados, por traficantes.
Fui com minha mãe, ao cemitério do Caju, num dia de domingo. Era o enterro de uma tia da minha mãe. A Avenida Brasil está muito perigosa.
        As pessoas nem têm mais medo dos mortos do cemitério, sentem pavor dos vivos. São eles que violentam e matam.
       Quando ia para o banheiro público, tinha medo de ser espancado por um grupo de homens.  Sempre tive essa paranóia, ser espancado e depois me obrigarem a beber a água suja do vaso sanitário. Evitava ao máximo os banheiros públicos.
Pensava que as pessoas estavam muito violentas, tinha pavor de ser agredido.  Ser assaltado é chato, mas ser agredido que é pior ainda.
Um dia não agüentando mais à vontade mijar, entrei num banheiro público. Não fui ao mictório, mas ao vaso sanitário. Sentia-me mais protegido.  Porém, o vaso estava sujo de cocô e fui obrigado a mijar em cima das fezes. Odeio mijar em cima das fezes, mas não tinha jeito.
Quando já estava lavando as mãos, percebi que um outro homem  me observava.
Sai do banheiro com pressa e fui correndo pela rua.
Sempre olhava para trás, via o homem do banheiro. Comecei a correr sem parar, atravessei o sinal aberto e fui atropelado. Graças a deus, sobrevivi e consegui me restabelecer bem.
Depois de algum tempo, pensando sobre o acidente, comecei a ter uma dúvida: será que aquele homem existiu realmente?    


6/10/2005
O pior esquecimento é quando a gente se larga.
Perde-se na imensidão da vida.
Deixa-se esquecer no cotidiano.




8/10/2005 

Vejo duas moscas voando. Estão cruzando. Surpreendo-me ao ver essa cena. Nunca percebi esse fato, talvez o considerasse insignificante até então.
        Vou ao quarto dos meus pais. Olho pela janela, uma pipa enroscada numa antena de TV. O vento balança a rabiola. Imagino que essa imagem representa um sonho infantil perdido no tempo.
        Remexo nas coisas da minha mãe. Vejo uma foto antiga minha quando era criança. Estou na minha primeira bicicleta. Eu a vi por diversas vezes, mas, nunca tinha percebido, uma mulher atrás de mim. Estava sentada no banco da praça, não a conhecia. Ela saiu na foto sem querer, nem estava fazendo pose e sim distraída. Era muito bonita e seu rosto misterioso.

         Fiquei curioso de saber quem era.   

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