sábado, 26 de dezembro de 2015

15/09/2004
Estou fazendo um curso, para aprender a técnica de escrever uma história. Estou gostando muito.
Quando estou indo, sinto euforia, mas quando volto para casa fico desanimado. Tenho o receio de me machucar. Não gosto de sofrer.
Distraio-me, observando pela janela do ônibus, a paisagem bela e ao mesmo tempo maltratada da Cidade do Rio de Janeiro.
No segundo dia de aula, a professora fez um exercício que tinha como finalidade, desbloquear a imaginação. Mandou a turma, formar um círculo. Pegou uma bola, disse que ao receber a bola, cada um deveria falar uma palavra, a primeira que viesse na cabeça. Ficamos jogando bola um para o outro. De repente, a professora ordenou que a gente parasse. Disse que era para escolher uma palavra( eu disse shopping) e escrever sobre ela, em cinco minutos;
“Fui ao shopping. Foi bom. Lembro-me de fragmentos da minha infância. Todo final de semana ia ao shopping, para ir ao cinema, comprar brinquedo e lanchar no Mec’Donald. Depois, fiquei na casa da minha tia e dormi a tarde inteira. A casa dela é tão silenciosa. Neste dia fez calor.”.
Depois, na mesma aula, explicou a diferença de crônica e conto; a primeira, o autor emite uma opinião sobre os acontecimentos do cotidiano e os fotografa. O segundo é uma história contada por alguém, tem começo meio e fim. Ao termino da explicação, mandou que a gente escrevesse em cinco minutos uma crônica e um conto, no mesmo tempo. O tema era violência.

A crônica: “ A violência não se origina só nos problemas sociais. Está relacionada, também, com a índole das pessoas.
Sempre ouvi falar e já conheci pessoas de origem humilde, que são pessoas de bem, estudam e trabalham. Enquanto, jovens que têm boas condições sociais, são marginais. Possuem o prazer de provocar dor. São verdadeiros sociopatas e psicopatas.”

O conto: “ Ela estava andando, tinha medo. “Um raio não cai duas vezes, no mesmo lugar”. Ouve passos atrás dela, parece ser um homem muito forte. Começa a ter medo e corre. “Não vai acontecer de novo”, pensou. Chegou em casa, toma banho e se deita. Não sabe o porquê de tanto medo. Sonha com o padrasto, ele está acariciando sua boneca. De repente, se lembra da violência que sofreu quando criança. Ela nunca foi atacada na rua, mas dentro de sua própria casa, onde deveria ser seu refúgio.”



17/09/2004

Vi, uma vez, um par de sandálias vermelhas masculinas na vitrine de uma loja, no centro da cidade. A cor densa e latente destas sandálias hipnotizou-me. Mas, não tinha dinheiro para comprá-las, eram muito caras. Senti um pouco de vergonha, sempre me considerei uma pessoa não muito consumista.

Não sei se foi delírio, mas elas me diziam algo: “Comprem-nas. Levaremos você aos lugares que deseja; cidades antigas, museus famosos e cafés, onde vendem tortas deliciosas e capputinos saborosos”. 

Fiquei vinte minutos observando-as; o vendedor percebeu e perguntou se queria alguma coisa. Respondi que estava sem dinheiro e fui embora. Nunca mais vi essas enigmáticas sandálias.

        O vermelho sempre me perseguiu. Outra ocasião estava no mercado, quando a vi. Era uma grande maça escarlate. Minha boca ficou cheia d’água. Comprei-a e fui logo para casa. Quando cheguei, dei a primeira mordida. Senti alguma coisa gosmenta, cuspi; a fruta estava cheia de bicho. Joguei-a fora. Ela era a mais bonita de todas as maçãs no mercado; porém por dentro, era podre. Fiquei com medo de repente. Até as coisas belas se decompõem.
   Dormi. Acordei. Vi a mesma maçã vermelha na mesa, mas não tinha jogado fora? Peguei-a de novo, cortei-a em pedaços com a faca e a joguei no lixo.

   Fui comprar pão, quando voltei, lá estava ela de novo. Maldita! Uma voz sussurrante começa a falar comigo; diz que almejava ser pintada. Como sabe que sou pintor? Por que está aqui; pensava atordoado. “ Pinte-me, quero que minha imagem seja eterna. Estou cansada...”. Resolvi realizar seu desejo. O quadro ficou belo, nunca tinha feito uma obra de arte tão magnífica antes. Quando terminei e olhei para a mesa, a maçã não estava mais lá; só uma pasta preta, cheia de vermes. Finalmente ela descansou.

    Coincidência ou não, tinha acabado de ler O RETRATO DE DORIAN GRAY, Oscar Wide.


19/09/2005
     Projetos na cabeça, sonhos que vão e voltam. O tempo passa e nada se concretiza.
Medo do futuro.




20/09/2004

São 16:20, o dia está quente. Ainda está muito cedo e o céu claro, mas vejo a lua cheia. É interessante ver o sol e a lua ao mesmo tempo no céu.

O vento está secando o suor do meu rosto. Isso é clichê, mas sou o Rei dos clichês.
Será que a água está fria? Antes que me esqueça, estou na barca. Vou para Niterói, conversar com a professora outra vez sobre a minha monografia(como é chato escrevê-la).

Não dou para ser um cientista social e intelectual.

A Barca já está chegando. O centro de Niterói parece ser um bom lugar para morar. Olho os apartamentos, imagino-me morando neles. Acabei de ler no ônibus, um conto em que um personagem dizia: – escrever é torturante –. Concordo com ele plenamente.

Já estou praticamente em Niterói. As pessoas começam a se levantar das cadeiras. Estão apressadas, eu também.



21/09/2004

            Estou com vontade de chorar...

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