sábado, 26 de dezembro de 2015

13/08/2004

  Escrevo; Meu Deus, o computador está fazendo um barulho estranho; toca uma música da Madona que adoro, mas não sei o título, sou assim, não guardo nome de música; vários pensamentos passam por minha cabeça; o dia está nublado e abafado, estava no ônibus, queria preencher um formulário, mas não conseguia por causa das freadas do ônibus; tenho que caminhar; vou fazer concurso público; está chegando o final do ano, o tempo está passando rápido, lembro-me que quando criança, ele parecia que passava devagar; continuo a escrever, estou esperando algo acontecer; são 18:28; o barulho de novo no computador, tomara que não estrague outra vez; de novo está tocando uma música que gosto, mas não sei o nome dela e nem quem canta; quero arriscar, tudo ou nada, não quero mais me guardar, prefiro me machucar, vou tentar, não agüento ficar mais na inércia, tenho que aproveitar o restinho de juventude; em algumas ocasiões, sonho que saio da minha janela e me transformo num dragão voador; medo, quero arriscar essa palavra do meu dicionário; amanhã tenho que tirar xerox, ir para oficina de conto que estou fazendo, levo duas horas para chegar lá; estou com um conto que não me sai da cabeça, quero fazer uma paródia do livro O Retrato de Dorian Gray, o meu conto será O Retrato de Dolores Gray, que narra a história de Dolores, uma moça que nasceu com uma bunda escultural; um fotógrafo ficou tão admirado com suas nádegas que pediu à moça que deixasse tirar uma foto; no início, ela não quis, ficou com vergonha, mas a mãe incentivou: "Filha, sua bunda é linda! Não desperdice o que deus lhe deu.", Dolores sempre escutou mãe, foi um sucesso só, Dolores ficou tão admirada com sua bunda, que desejou que ela nunca ficasse velha, o tempo passou e suas nádegas continuam lindas, mas o retrato (que o fotógrafo deu especialmente para ela) a bunda era outra, totalmente muxibenta , Dolores escondeu o retrato e... aí pensarei num desfecho para essa paródia mais tarde, estou sem saco agora; são 19: 00, é Horário de Brasília, acho um saco, não posso mais ouvir música; adoro desenhos de mangá, tem um que não consigo esquecer: A Viagem de Chihiro; como serei daqui à vinte anos; morte, nem penso nisso, abafa o caso; está escuro, vou ligar a luz, voltei e desliguei o rádio; queria ler todos os textos dos sites literários, mas não posso, se não, a conta de telefone vem alta; a INTERNET é uma mar de possibilidades e de aprendizagem, porém, para mim, impossível aproveitá-la totalmente; fico num conflito quase existencial, me perco no emaranhado de links e sites ou economizo, para a conta não vim alta; ainda não me acostumei a ler na tela do computador e não sei sé o meu monitor, mas as letras das páginas digitais são, na maioria das vezes, muito pequenas, tenho até dor de cabeça; hoje é tudo muito rápido, meu ritmo é mais lento; parece que sempre estou em defasagem, não estou me subestimando, é meu jeito de ser; imagino imagens em minha cabeça, gostaria de ser pintor para reproduzi-las; às vezes, tudo está tão silencioso, que deitado na minha cama, só escuto as batidas do meu coração, isso me deixa um pouco agoniado, o silêncio é pra poucos; chega de escrever, se não, ninguém vai entender e nem eu mesmo; quero escrever o agora, mas não consigo, quando acabo de pensar e ao colocar no papel, já foi; erro muito escrevendo, por isso, apago o texto e escrevo de novo, fico um pouco triste de errar tanto, porém, descobri que antes da perfeição há os defeitos; ter uma opinião sobre tudo, não consigo; estou esperando...
  

         17/08/2004
          ...estou esperando... tomara que venha um dia...




21/08/2004
A professora da faculdade me emprestou uma monografia, para eu ver como se escreve. Quando comecei a ler, algo chamou a minha atenção: “construção do conceito de infância”. Lembrei-me que sempre escutei na faculdade, que a nossa realidade é construída por nós mesmos. Criança, mulher, biografia e a minha identidade não passam de conceitos formados a partir de um grupo social. Fico inseguro; tudo que conheço parece ser frágil e que diluirá no ar.

Queria tanto acreditar nas verdades absolutas...


23/08/2004

Lembro-me que quando era mais novo, sentia esperança de mudança, ao ver minha mãe chegar em casa com tudo novo: livros, cadernos, lápis, canetas e borrachas .
Prometia intimamente estudar com mais afinco, fazer amigos, curtir a vida como todo mundo e ter mais cuidado com o material escolar, para não perder mais nada.
 Porém, ao longo do ano, repetia os mesmos erros. Minha alma preguiçosa e bestial dominava meu corpo, ganhando sempre a batalha.
Não conseguia me disciplinar, para organizar o meu tempo. Aí, o dia terminava num piscar de olhos.
Na escola, ficava doido para voltar para casa. Só queria comer, dormir à tarde inteira e ficar no chuveiro horas; onde secretamente pedia para  água, que levasse todos meus problemas e pensamentos ruins.


30/08/2004

Isso está uma merda. Vou apagar o arquivo e queimar os rascunhos no terreno baldio. Momento clichê: O que estou fazendo mesmo? Quem sou eu?...


05/09/2004
... fui fazer um exame.
  Depois, fui esperar o resultado na sala de espera. Tinha uma máquina de fazer café expresso, que nunca tinha visto antes e como não sabia mexer nela, uma moça me ajudou. Primeiro tinha que colocar o copo, onde saía água quente e depois num outro que tinha o pó. Quando comecei a beber, quase fiquei num estado de êxtase. O café era delicioso. Como gostaria de ter essa máquina de café expresso.




7/09/2004
Sonho acordado. Quero viver num mundo transparente, onde a verdade é plena. Não há máscaras, todos vivem nus. Acho que já escrevi isso antes, dana-se! Tive vontade de dizer de novo e ponto final.



  
08/09/2004

Febril... vejo-a na tevê. Uma jovem pianista, que comenta um filme nacional: “ O diretor do filme entende bastante de música”, diz confiante. Aí, a apresentadora confirma a sua afirmativa categórica... Fico tão admirado ao ver jovens sensíveis e intelectuais, que chego a sentir uma ponta de inveja... Fazem parte de uma existência bastante diferente da minha e o que vejo ao redor. Jeito meigo de falar parece uma menina; porém possui um conhecimento e sensibilidade, que muito marmanjo( inclusive eu) não tem. Bela! Mas não quer só ser uma integrante passiva do todo da natureza; quer criar melodias envolventes que penetra na intimidade do outro e que o faz viajar aos lugares mais fantásticos...



09/09/2004

O pensamento é a única coisa que nos estupra 24 horas por dia; ora conscientemente ora através de sonhos. De repente me vi, não gostando mais de tirar foto. Até pouco tempo, não me importava e até gostava. Mas agora o retrato me mostra algo, uma revelação, que no espelho nunca havia percebido. Na fotografia que tirei por esses dias, vi a minha imagem desgastada; o rosto estava triste, contrastando à fisionomia alegre e jovial de outrora.


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