13/08/2004
Escrevo; Meu Deus, o
computador está fazendo um barulho estranho; toca uma música da Madona que
adoro, mas não sei o título, sou assim, não guardo nome de música; vários
pensamentos passam por minha cabeça; o dia está nublado e abafado, estava no
ônibus, queria preencher um formulário, mas não conseguia por causa das freadas
do ônibus; tenho que caminhar; vou fazer concurso público; está chegando o
final do ano, o tempo está passando rápido, lembro-me que quando criança, ele
parecia que passava devagar; continuo a escrever, estou esperando algo
acontecer; são 18:28; o barulho de novo no computador, tomara que não estrague
outra vez; de novo está tocando uma música que gosto, mas não sei o nome dela e
nem quem canta; quero arriscar, tudo ou nada, não quero mais me guardar,
prefiro me machucar, vou tentar, não agüento ficar mais na inércia, tenho que
aproveitar o restinho de juventude; em algumas ocasiões, sonho que saio da
minha janela e me transformo num dragão voador; medo, quero arriscar essa
palavra do meu dicionário; amanhã tenho que tirar xerox, ir para oficina de
conto que estou fazendo, levo duas horas para chegar lá; estou com um conto que
não me sai da cabeça, quero fazer uma paródia do livro O Retrato de Dorian
Gray, o meu conto será O Retrato de Dolores Gray, que narra a história de
Dolores, uma moça que nasceu com uma bunda escultural; um fotógrafo ficou tão
admirado com suas nádegas que pediu à moça que deixasse tirar uma foto; no
início, ela não quis, ficou com vergonha, mas a mãe incentivou: "Filha,
sua bunda é linda! Não desperdice o que deus lhe deu.", Dolores sempre
escutou mãe, foi um sucesso só, Dolores ficou tão admirada com sua bunda, que
desejou que ela nunca ficasse velha, o tempo passou e suas nádegas continuam
lindas, mas o retrato (que o fotógrafo deu especialmente para ela) a bunda era
outra, totalmente muxibenta , Dolores escondeu o retrato e... aí pensarei num
desfecho para essa paródia mais tarde, estou sem saco agora; são 19: 00, é
Horário de Brasília, acho um saco, não posso mais ouvir música; adoro desenhos
de mangá, tem um que não consigo esquecer: A Viagem de Chihiro; como serei
daqui à vinte anos; morte, nem penso nisso, abafa o caso; está escuro, vou
ligar a luz, voltei e desliguei o rádio; queria ler todos os textos dos sites
literários, mas não posso, se não, a conta de telefone vem alta; a INTERNET é
uma mar de possibilidades e de aprendizagem, porém, para mim, impossível
aproveitá-la totalmente; fico num conflito quase existencial, me perco no
emaranhado de links e sites ou economizo, para a conta não vim alta; ainda não
me acostumei a ler na tela do computador e não sei sé o meu monitor, mas as
letras das páginas digitais são, na maioria das vezes, muito pequenas, tenho
até dor de cabeça; hoje é tudo muito rápido, meu ritmo é mais lento; parece que
sempre estou em defasagem, não estou me subestimando, é meu jeito de ser;
imagino imagens em minha cabeça, gostaria de ser pintor para reproduzi-las; às
vezes, tudo está tão silencioso, que deitado na minha cama, só escuto as batidas
do meu coração, isso me deixa um pouco agoniado, o silêncio é pra poucos; chega
de escrever, se não, ninguém vai entender e nem eu mesmo; quero escrever o
agora, mas não consigo, quando acabo de pensar e ao colocar no papel, já foi;
erro muito escrevendo, por isso, apago o texto e escrevo de novo, fico um pouco
triste de errar tanto, porém, descobri que antes da perfeição há os defeitos;
ter uma opinião sobre tudo, não consigo; estou esperando...
17/08/2004
...estou esperando...
tomara que venha um dia...
21/08/2004
A professora da
faculdade me emprestou uma monografia, para eu ver como se escreve. Quando
comecei a ler, algo chamou a minha atenção: “construção do conceito de
infância”. Lembrei-me que sempre escutei na faculdade, que a nossa realidade é
construída por nós mesmos. Criança, mulher, biografia e a minha identidade não
passam de conceitos formados a partir de um grupo social. Fico inseguro; tudo
que conheço parece ser frágil e que diluirá no ar.
Queria tanto acreditar
nas verdades absolutas...
23/08/2004
Lembro-me que quando era mais novo, sentia
esperança de mudança, ao ver minha mãe chegar em casa com tudo novo: livros,
cadernos, lápis, canetas e borrachas .
Prometia intimamente estudar com mais
afinco, fazer amigos, curtir a vida como todo mundo e ter mais cuidado com o
material escolar, para não perder mais nada.
Porém, ao longo do ano, repetia os mesmos
erros. Minha alma preguiçosa e bestial dominava meu corpo, ganhando sempre a
batalha.
Não conseguia me disciplinar, para
organizar o meu tempo. Aí, o dia terminava num piscar de olhos.
Na escola, ficava doido para voltar para
casa. Só queria comer, dormir à tarde inteira e ficar no chuveiro horas; onde
secretamente pedia para água, que
levasse todos meus problemas e pensamentos ruins.
30/08/2004
Isso está uma merda. Vou apagar o arquivo e queimar os rascunhos
no terreno baldio. Momento clichê: O que estou fazendo mesmo? Quem sou eu?...
05/09/2004
... fui fazer um
exame.
Depois, fui esperar o resultado na sala de
espera. Tinha uma máquina de fazer café expresso, que nunca tinha visto antes e
como não sabia mexer nela, uma moça me ajudou. Primeiro tinha que colocar o
copo, onde saía água quente e depois num outro que tinha o pó. Quando comecei a
beber, quase fiquei num estado de êxtase. O café era delicioso. Como gostaria
de ter essa máquina de café expresso.
7/09/2004
Sonho acordado. Quero viver num mundo transparente, onde a verdade
é plena. Não há máscaras, todos vivem nus. Acho que já escrevi isso antes,
dana-se! Tive vontade de dizer de novo e ponto final.
08/09/2004
Febril... vejo-a
na tevê. Uma jovem pianista, que comenta um filme nacional: “ O diretor do
filme entende bastante de música”, diz confiante. Aí, a apresentadora confirma
a sua afirmativa categórica... Fico tão admirado ao ver jovens sensíveis e
intelectuais, que chego a sentir uma ponta de inveja... Fazem parte de uma
existência bastante diferente da minha e o que vejo ao redor. Jeito meigo de
falar parece uma menina; porém possui um conhecimento e sensibilidade, que
muito marmanjo( inclusive eu) não tem. Bela! Mas não quer só ser uma integrante
passiva do todo da natureza; quer criar melodias envolventes que penetra na
intimidade do outro e que o faz viajar aos lugares mais fantásticos...
09/09/2004
O pensamento é a única coisa que nos
estupra 24 horas por dia; ora conscientemente ora através de sonhos. De repente
me vi, não gostando mais de tirar foto. Até pouco tempo, não me importava e até
gostava. Mas agora o retrato me mostra algo, uma revelação, que no espelho
nunca havia percebido. Na fotografia que tirei por esses dias, vi a minha
imagem desgastada; o rosto estava triste, contrastando à fisionomia alegre e
jovial de outrora.
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